terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O alfinete

Havia uma mesa, um pente e uma cadeira.
Alguém afastou esta e sentou-se calmamente.
Alguns dedos, sem querer, derrubaram da mesa um alfinete comprido que havia aparecido ali quase que de repente.
Foi um som baixo, mas para o tamanhozinho do alfinete estava até muito alto, e reverberou por um longo tempo. Tudo antes havia sido silêncio. Poder-mos-ia imaginar o objeto tremendo-se no chão. O som parecia ser de um piano taciturno e teria subido aos ouvidos em círculos. Era algo muito curioso.
Quando dois pares de olhos amarelados instintivamente jogaram-se ao chão para buscar o alfinete, este já havia desaparecido, igualmente como havia aparecido, quase que de repente.

Por: Ítalo Héctor de Medeiros Batista

sábado, 18 de dezembro de 2010

Sem mudanças com a morte


A casa continuava na mesma sintonia, não aparentava ter havido ali uma morte na noite passada. Nós ficávamos perguntando como pessoas tão tradicionais poderiam permanecer tão irremissíveis como as mulheres e o homem naquele lar. Através das paredes escutávamos os risos e as conversas alegres de todos os dias, porque a morte seria agora um marco, como se delimitasse um tempo antes de ter acontecido o fato, e um tempo depois do fato ocorrido.
Os quinze dias finais foram limitados a um leito de cama hospitalar, onde só poderia comer frutas e legumes verdes ou se preferisse, uma sonda que lhe alimentaria com um líquido alvo e mal promovido de cheiro, mas que garantiam ter toda validez que ela precisava.  E era uma mulher forte, porém o tempo cumpriu o seu papel, deixou-a raquítica e pálida, com pele flácida e olhos sem visão; tudo o que ela mais amava em seu corpo havia sido destruído, e nem assim ela perdia a fé em viver e a força de vontade em lutar.
Não foi possível casar-se. Ela dedicava-se muito ao trabalho, e, portanto era muito atarefada em suas artes de costura para tirar do seu tempo alguns instantes para os homens que lhe faziam a corte, mas que não lhe agradava em nada. Viveu e morreu pelo trabalho, porém ficou impossibilitada de trabalhar seus últimos tempos, mas sua irmã cuidava de tudo, principalmente do seu dinheiro, pois seu interesse estava depositado naqueles tostões que recebia de sua aposentadoria gerada por invalidez e velhice. Sofreu um bocado, mas segundo seus familiares, após sua morte ela pôde descansar com sono eterno, viver da maneira que queria (festiva), sorrindo e brincando como desejava em vida.
Tudo não bastou, o que nos impressionava estava ligado à conseqüência gerada pela sua morte, e por um acontecimento tão triste não ter gerado nenhuma inflação em ânimos dos parentes. Os amigos daquela pobre mulher observavam em seu velório o comportamento de sua irmã e afilhada que tentavam alterá-los, mas o fingimento era sempre cortado com uma conversa nova que surgisse no ambiente, isso gerava certo comentário interno entre todos os presentes não-familiares, e também os que não a conheciam, mas andavam pela rua naquela noite e via tudo o que se passava num completo estado de nostalgia. 

Em memória a Josefa.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Cêu Céu

Sinto a necessidade de contar esse céu aqui, já que inúmeras vezes perdi a oportunidade de contar outros céus – ou contei, mas os perdi. –, e porque talvez até o final de minha vida eu jamais encontre um igual a esse.
No anoitecer do dia quatorze de Dezembro, ano 2010, via-se um mesclado de cores vívidas acima de nossas cabeças. No Noroeste, a noite já chegava, eram umas 18hrs: 18min, e, por tanto, o azul era bem escuro. Nos limites da lua, que se posicionava bem acima de mim, no zênite, as cores já iam mudando, tornando-se de um azul escuro, mas não tão escuro como o da noite, talvez um azul marinho, e nele riscavam-se nuvens muito magras. Pode-se dizer que tais nuvens estavam por todo o céu.
    Após o azul marinho encontrava-se esta cor, sendo um pouco mais claro e bastante selvagem. Estava realmente iluminado, como se fosse projetado por uma lâmpada neon e já se encontrava algumas estrelas. Normalmente, havia os riscos de nuvens...
    Esticando-se a cabeça ainda mais um pouco para o oeste, estava-se evidente que um simples azul aconchegava-se entre o seu amigo selvagem e aquele que era ainda mais claro.
    Essa última cor ainda estava bem mesclada com horizonte, que era um pouco iluminado, mas não havia sol, por tanto, acho – é que não me recordo muito bem, talvez porque acabei me interessando mais pelos ventos frios que me rodeavam ferozmente. – que o laranja do pôr-do-sol já não estava mais presente.
    Agora a pouco, uns minutos antes de esses pernilongos estarem me tirando a paciência e o sangue, vi uma das mais belas noite. Dá-me até uma vontade de ver de novo – acabei de ver pela falha brecha da porta e não gostei! Era tudo um cinzento de nuvens más, um alaranjado que não sei de onde veio!
    A noite que eu havia visto era bem escura, muito mesmo. E, ao contrário do que vi pela brecha da porta – e não se engane ao pensar que não vi tudo que eu poderia ver se estivesse fora de casa. –, havia várias estrelas, tendo uma delas me chamado muito a atenção. Mas antes que eu me empolgue com tal estrela, vou logo falar do céu e depois dou um jeito de meter no assunto o corpo celeste.
   Como já foi dito, tudo era bem escuro, a não ser o horizonte oeste que, de algum modo, por trás das nuvens muito brancas que, não sendo pela cor, pareciam montanhas, estava bem claro, de uma luz muito branca também. Para ser bem sincero, acho que as nuvens só estavam brancas por causa da tal luz, que de tão forte, mesmo escondida, ainda refletia-se e mostrava-se para meus olhos.
    Voltando ao Noroeste, tudo ainda continuava bem escuro como sempre havia sido desde as 8hrs: 18min. Não se via mais lua alguma, e a nuvens corriam soltas e muito rápidas. Mas essas tontas não se comparavam nenhum pouco com as que se pareciam montanhas.
    Escrevendo sobre estrelas – e estas se agruparam num único ponto. –, que de algum modo não foram escondidas por nuvens – talvez porque estas reconhecessem que os pontinho brilhosos eram realmente bonitos e então não podiam ser apagados. –, brilhavam intensamente, como o céu de azul selvagem, projetado por lâmpada neon. Mas uma estrela específica me chamou muito a atenção. Não sei ao certo o porquê, talvez pelo fato de que seu brilho parecia bem mais genuíno do que as das outras. Havia um ponto muito forte, branco e grande no meio, e nas pontas, as linhas que apontavam para todos os cantos eram bem fininhas. Era uma estrela única.
    E tenho que dizer uma coisa muito importante: assim que eu iria me virar para entrar e nunca mais voltar a ver o céu como tal estava, uma coisa impressionante aconteceu. Uma estrela cadente. Foi nesse momento que eu pude perceber que eu era realmente feliz, e que as coisas que eu mais desejo de coração sincero iriam acontecer.
    Meloso assim como estou, aqui vou finalizando o meu contar sobre o céu do dia quinze de Dezembro de 2010, e me perdoem se me esqueci de algo, mas é que estou com sono e tenho memória falha.
    O céu é diferente para todos e, mesmo assim, muda constantemente para uma pessoa só.


Por: Ítalo Héctor de Medeiros Batista.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Uma carta sem sentido para alguém

Eu poderia lhe recitar palavras num momento tão perfeito como este, mas já é madrugada, e você não está tão presente como eu desejaria. E ainda que estivesse pertinho de mim, as palavras talvez não saísse, e me deixariam como sempre sem ter como agir. As palavras sempre são uma armadilha para aqueles que não conseguem completar o que dentro de si se manifestam, as coisas saem com um grau de intensidade enorme, e acabam por desmerecer os momentos mais simples que possam existir. Mas, ainda assim há necessidade de compreensão, e a maneira pela qual você me deixa falando sozinha, ou até busca contornar a minha forma cansativa de expor o que eu acho que esteja correto, me magoa, fere de tal forma magnífica, ela chega sem motivos, e quando dou por mim, elas ultrapassam as vertentes do que eu deveria controlar. Na verdade eu sempre escondo coisas de você, tentando evidenciar somente o que nos for realmente necessário, não quero acabar como tantas outras que buscavam melhorias em você, mas te faziam perder a vontade de tê-las por perto, e a falta de entendimento poderia nos prejudicar muito. E não pense que eu escondo segredos, escondo ou não exponho por não querer encher sua cabeça com problemas banais, com atitudes mimadas da minha parte, que só fazem de certa maneira aumentar o foco das mesmices do meu dia-a-dia. Deposito tanta coisa em você, e com a sua gentileza eu posso acreditar que não lhe faço mal, acredito que não lhe faça mal, porém elas poderiam tomar um rumo de solução sem que chegasse a você como um problema a ser resolvido a dois. Mesmo assim penso de uma maneira conjugal, somos ou não um casal?