Sexta-Feira 04/02/2011, às 00:01
Já se passa da meia-noite. Estou na sala, debruçado sobre a mesa e à luz de uma vela – faltou energia em quase todo o país, mas não me pergunte como sei isso, pois então eu teria que escrever muito, muito, e estou cansado.
É tudo tão abafado, silencioso... Mas as folhas de papel e a caneta cortam secamente essa calmaria, reverberando de agonia, gritando em meio ao calmo.
Escuto latidos de cachorros lá longe, mas tudo é escuridão, não posso enxergar muita coisa à minha frente. Da brecha da janela, também escuto um barulho ensurdecedor diante dessa “tranquilidade”, que só é perceptível se o procurarmos. Percebo logo que é um automóvel, e então ainda mais longe surgem mais desses ruídos. Às vezes dá para ver uns pontos de luz lá na estrada, avenida; é um belo espetáculo.
Onde estou, há o som de insetos como grilos e cigarras... Tudo é música de fundo.
Agora a pouco fui ver o céu, as estrelas parecem ter se multiplicado, está tudo bem azul, a não ser pelas nuvens lá no horizonte noroeste, estão todas tão iluminadas que parecem montanhas (uma assumiu forma de baleia), e me pergunto se essa luz vem da lua, que vem do sol, que torna dia o meu horizonte noroeste.
Acabei de queimar um pouco a ponta de meu lápis. Eu gostaria de saber como sairia a escrita, mas a não ser a primeira letra, o resto está normal.
Lufadas tornam-se mais ferozes e barulhentas nesse silêncio. Eu continuo com calor. A luz da vela está bruxuleando, ficando mais baixa, e meu frenesi em escrever torna-se ainda mais barulhento.
Agora são dezoito minutos da manhã, e o céu decidiu guarda-se – nublou! O telefone acabou de tocar, logo fui atender, estou com ele preso ao meu ombro, mas ninguém fala, não há chamada, só um zumbido. Será que a energia voltou?
Acabei de ver na lâmpada do banheiro, ainda não...
Alguns carros projetam luz na minha janela de vidro, e de repente sombra de galhos de árvores surgem. O filho deficiente mental do meu vizinho faz barulho, grita, chora ou tenta se expressar de alguma outra forma barulhenta, já que não sabe falar. Às vezes ele se cala, mas eu sei que continua lá, com medo.
Agora a pouco fui ao nosso pequeno terraço fechado. Eu quis ver o céu novamente... Tudo parece tão mais escuro. O vento balança as árvores que ficam uma em frente da minha casa e a outra do lado, e eu vejo os galhos se mexerem... Adoraria estar com uma vela escrevendo no frio lá de fora.
As nuvens do horizonte noroeste estão se espalhando, o céu está ficando mais iluminado e fechado. Na abertura entre as nuvens há muitas estrelas, mas tudo ficou mais escuro e quieto.
Não estou com sono, mas acho que se eu não for me deitar meu pai reclamará. Agora darei mais uma olhada no céu que não vou poder descrever aqui. Boa noite.
P.S: No horizonte noroeste é como se o dia estivesse amanhecendo. Engraçado, não é? Noroeste! E a copa das árvores balança, eu as vi e vejo a tudo...
(alguma hora depois)
Não fui me deitar. Sentei no pequeno terraço e fiquei escutando os sons, vendo o que eu podia. Percebendo a negritude do meu olhar, do ar que deveria não ser visto, mas eu consigo. Só depois me deitei, mas a muito caro.
Por: Ítalo Héctor de Medeiros Batista
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