sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Crônica de um morto vivo.

Alta madrugada. Eis a cinza do cigarro representando a sua desgraça que mesmo apagada tem a necessidade de gerar um incêndio relembrando e amaldiçoando tudo aquilo que tentou construir. Como uma praga, uma sujeira, uma mancha que não pode ser limpa. Uma mancha que está cravada para sempre em rosto deformado e desfigurado por uma traição que assim como a sua beleza, levou o único ser que já foi capaz de amar.
Havia então a ânsia de gritar, de absorver a alma de prostitutas quaisquer, na sede do tejo de suas pernas encravadas, no ímpeto ilusório da afirmação de ser homem e ter que cumprir tal papel.
Ela. Cuja memória se esvai na voz de prazer de vários homens, dança num quarto onde uma parede composta de um espelho cego a separa dos desejos insatisfeitos de ver e não poder tocar de um macho qualquer. Justo em contra posição a sua cegueira de faces, ainda consegue ouvir a voz rouca e rasgante de seu conjugue gritar no trailer que pôs em chamas. O mesmo aonde foi amarrada, lhe foi arrancada pele, carne, sangue e dignidade pelo ciúme do desgraçado que por razões que não entende, não consegue esquecer.
Hoje, a distância dele e do filho, cola seu corpo no lar cujo metal se desfez. A voz do esposo agora se faz em gritos e é sussurro de gemidos de homens que agora a pagam. Pagam por satisfazer desejos acalados, silenciados e alimentados daqueles homens demasiadamente humanos. E os faz, não por não ter escolha. Os faz, por satisfazer também seus desejos sujos e indignos (indignos apenas para os/as hipócritas). Os faz, porque no metal da pele daqueles homens sente seu corpo arder, suar, queimar em arrependimento na dança dos corpos. Os faz, porque sente estar deitando com o homem que amou e que hoje se faz pó. Assim como o que restou dela.
Ele. Na ponta dos cabelos dela, morenos antes. Respira a liberdade enroscado em um sentimento falso, mentiroso, capaz de destruí-la com apenas uma frase. Uma verdade que é incapaz de contá-la, permanecendo às escuras, destruindo e criando um homem que só existe na presença dela. Carne sedentária, íngreme e impetuosa abrange em pele, veias e sangue sua vontade incontrolável de consumir como um parasita todo o êxtase impregnado como cheiro de cigarro na voz dela ao ouvir que o ama. Mesmo que se contenha em penumbras de oscilação de desejos luxuriosos. Mesmo que se contenha em contar que ali se faz presente seu homem, ou parte desfigurada do que restou dele.

Um marco

Sua pressão arterial havia subido muito. Depois daquele enorme dizer ela não sabia controlar seu coração e a pulsação que conduzia a velocidade de seus batimentos cardíacos. Sua reação poderia não ter sido uma das melhores, até porque ouvir algo daquela espécie era como conquistar a vida e a vitória de ter vindo e vivido o que realmente queria. Agora já poderia morrer, mas morreria realizada por tudo que estava fazendo ao lado dessa pessoa.
No dia anterior tinha escutado que ele era uma ótima pessoa, e ela não havia escolhido errado a quem deveria amar. Uma experiente tinha lhe dito o que passava em sua cabeça há séculos, poderia até ser citado que aquilo rondava a sua cabeça antes mesmo de tocá-lo, porque a certeza não era em vão, era algo imaterial.
Nada explicava o que acontecia com ela quando se aproximava dele, e sentir o seu rosto sonso observando os seus contornos era algo familiar, mais que carnal, eles já se amavam antes mesmo de nascerem.
Não foi preciso palavras no momento que antecedia sua revelação, a respiração paralisada dele foi o bastante para alertar que algo de novo iria acontecer, e quando antecedia sua fala por um silêncio curioso, ele não se continha, sabia da inquietação dela, e assim desabafava o que estava preso na sua garganta. E não foi diferente quando ele soletrou aquelas palavras com o olhar baixo, como se estivesse direcionado para os lábios dela, dizendo tímido e perguntando ao mesmo tempo se ela conseguia entender o que se revolucionava em seu peito. Nada o que ela temia lhe atingia naquele instante, e mesmo sem conhecer o futuro que tinha nas mãos, ela já se entregava por inteira, e estava protegida.
E depois daquele imenso carnaval em seu coração, em que ela poderia contribuir? Retornar a sua fala, repetindo o que ele havia dito, mas ela não estava pronta, tremia, só não chorava como imaginava que iria acontecer. Morria de medo que ele não entendesse o que ela estava sentindo, ela resolveu falar, e como falava demais, foi explicando o que estava sucedendo aquele marco em sua vida, e fez até uma comparação horrenda com um marco histórico, e deitado em suas pernas, ele mostrou um sorriso meio de lado, e levantou, beijando-a e abraçando-a como se tudo estivesse resolvido, mesmo sabendo que o seu futuro poderia atrapalhar a alegria que ela estava compartilhando com ele naquele momento, e alguns minutos atrás tinha tirado dela lágrimas sangrentas, aliás, ela sofria muito em pensar que tudo o que poderia afastá-los se resumia em tempo e espaço. Mas ele não se cansava. Repetia para deixá-la confiante que nada poderia separá-los, nem mesmo a morte!

A política

Uma “buzina” soou. Era um meio-dia quente.
O jovem correu para a porta, esbarrou em alguns objetos e viu, sem querer, a pobreza de sua casa mal iluminada e cheirando a mofo – era uma sensação pesada e sofrida que descia do ar.
Preocupado apenas em atender o mais rápido possível àquele som que lhe chamava, correu com as chaves na porta e a abriu rapidamente; num instante aquela luz brilhosa e fervente invadiu-o o coração e os olhos. Sue corpo suava e logo estava quente, avermelhando em algumas partes; ocorreu-lhe que precisava de um vento, estava tão quente que parecia arder – foi imediato que o futuro procedeu.
Rapidamente, alguns pontos do seu corpo pareciam abrir e efervescer nos extremos. A dor penetrou-o e parecia percorrer seu corpo como uma serpente. Seus olhinhos vacilaram e ele nem tinha visto o que tinha acontecido. As últimas coisas que ouviu foram fortes barulhos secos como se estourassem. Sua última lembrança do mundo o sal e o sol que brilhava no céu.
“Nem viu quem ou o que tinha feito isto.”Ao menos suas preocupações já não serviriam de nada e então poderia ficar em paz.
Seu corpo foi pendendo para trás e o coração parecia um vulcão em erupção em que escorria uma larva vermelha, de cheiro tão forte e tão cheia de sofrimento e amor.
Suas roupinhas velhas que mal cambiam tinham mudado um pouco de cor – mas não importava mais.
Caiu e seu corpo esperou alguém chegar e vê-lo cheio de pena. Esperou por uma mãe que só encontrava a felicidade e o conforto de uma vida cruel num filho que era INOSCENTE de um voto mentido – Era a corrupção pelo direito. Mas não podia mais... Estava morto.

Por: Ítalo Héctor de Medeiros Batist

Silêncioso

É um texto sem fim e vontade.
São pensamentos, razões... Às vezes sem sentido, elegância, e que de vez em quando me curvam.
São aquele que já nascem esquecidos, tendo com base a minha falta de – este foi isso.
Faltavam-me motivos, educação e tudo aquilo que faz as pessoas pararem de se assustar, de sentar ao lado de alguém que nem sabemos se gostamos, mas queremos ficar por perto.

Por: Ítalo Héctor de Medeiros Batist

sábado, 23 de outubro de 2010

Sua dor

Aquela menina no qual temia ter sonhos acabava de acordar de um deles, e mesmo que aquele sonho fosse o primeiro e o único da sua vida, ainda assim acordava feliz com a vida, porque agora muito melhor do que antes, seu erro lhe ensinara e não amaldiçoara a alegria, como sempre acontecia.
Acabava de acontecer um momento inesquecível. Ela aprendia a dividir seus dias, suas alegrias, suas felicidades, e como toda moeda tem suas faces, aprendera também o mais difícil: mostrar seu lado escuro, nem que assim tivesse medo das pedras que iriam lhe ferir.
E como o rumo das coisas não costuma acontecer como o esperado, àquela menina alguns minutos depois voltava ao comum. Ia em busca do seu walkman, num refugio próprio, deitada no sofá de casa, olhando pro teto, vivendo com aquele ambiente escuro, escutando sua música triste, enxugando suas lágrimas, lágrimas derramadas sem motivo, pois o que lhe incomodava naquele instante era apenas sua dor.

domingo, 17 de outubro de 2010

Sobre o papel e pensando

Acho que descobri meu mistério, o porquê de ser tão assim. Penso que o fato de querer que tudo fique em letras escritas e de que isso fique tão bom quanto posso ser, acabam por as próprias coisas, sentimentos de que quero argumentar, me cansando. E agora tenho uma leve impressão de que há aqueles que não devemos tentar descrever, pois são esses que devem para sempre ficar nos nossos mais segredos e naquilo que dizemos para ninguém mais além de nós, pois todos somos obrigados a pensar em nós mesmos a todo o momento.


Por: Ítalo Héctor de Medeiros Batista.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Destruição

Foram feitas muitas perguntas, e todas elas ficaram sem resposta, elas não tinham o que esclarecer, tudo estava tão óbvio naquele instante sendo até possível tirar a voz de quem fosse interrogado. E as perguntas não foram esclarecidas naquele ambiente, as pessoas estavam paralisadas e prontas para mais uma batalha de forças consigo mesmo. Refletiam raios de Sol nas faces amareladas de cada um ser, eram raios de solidão, pois, ninguém se atrevia falar nada, nem ao menos se olhar.
Então o silêncio foi cortado, não por palavras, mas por pensamentos. Uma delas resolveu imaginar que a distância pudesse permanecer se ela fosse fria o bastante para matar cada saudade que viesse lhe perturbar, já que então a tristeza que reinava dentro de si mesma estava tomando conta da sua alegria pequena.
Sentidos tais pensamentos, ela abriu os olhos, olhou em sua volta, e percebeu que tudo o que havia pensando não passava de uma imaginação horrorosa, porém que pudessem virar realidade se ela não corresse à busca da felicidade, que batia dilaceradamente em sua porta. Ela não perdeu tempo, correu e se cansou.
O que estava acontecendo agora? Por que qualquer partícula do que ele falava estava agravando tanto a sua tristeza? Ah. Tiveram respostas dessa vez, todos resolveram quebrar as “taças” daquela festa silenciosa, e, portanto deixavam vivas as memórias daquela criatura que não chorava por não ter mais o que sentir de ruim. Ela estava completamente acabada, o seu desespero agora não tinha mais razão, já que então as horas estavam passando, e todas as vezes que lembrava que aquele final de ano se aproximava se destruía um pouco mais.

sábado, 2 de outubro de 2010

Compreensão de mulheres

Havia duas mulheres, grandes em personalidade, duas guerreiras cansadas do tempo que tiverem antes de chegar até aqui. E depois que chegaram nada mudou, aliás, tudo piorou, ficaram ainda mais tristes e não se entendiam mais. Parecia mais o final do relacionamento das duas, não que fossem homossexuais, mas queriam uma o amor da outra.
Mesmo o sofrimento e todo o tempo que passaram juntas não foram capazes de fazê-las cessar as brigas, se entendendo de uma maneira amigável, achando uma solução de uma vez por todas concreta. Não foram capaz, elas eram grandes demais, orgulhosas demais e não poderiam se deixar cair em ladainhas pequenas, já que então o sentimento que guardavam uma pela outra era tão grande, capaz até de fazer com o que o orgulho viesse a falar mais alto.
Perderam tantas vezes a consciência. Falavam palavras fortes, tão fortes que depois de falarem, corriam pro quarto, e ficavam chorando, pedindo a Deus que a outra fosse capaz de baixar a cabeça e pedir desculpas. Mas tudo isso não tinha motivo, brigavam sem razão, e todas às vezes pareciam ser as mesmas, pois eram os mesmos motivos de sempre.
O que havia acontecido em tão pouco tempo? Elas agora estavam mais velhas, suficientemente velhas para se entenderem apenas num olhar vazio, mesmo que não dissessem nada, mas deveriam se entender. E é só isso que uma delas almeja a compreensão da outra.