terça-feira, 13 de julho de 2010

Escuridão que também é luz

As lágrimas já tinham o molhado todo, mas os olhos continuavam secos, comichando o sono e espreitando o lugar escuro.
Ele, dono dos olhos que sempre ardiam e molhavam, sentia-se estafante, estressado, talvez fosse culpado.
Vivia com muito tempo, mas dizia não ter, pois não sabia aproveitar o que tinha. Ele sabia disso. Talvez fosse mais estressado por saber a verdade do que por realmente “não ter tempo”.
Caia pensativo por entre as ruas, e seus pensamentos vinham – ele amava pensar, e as vezes pensava coisas e em coisas maravilhosas – e depois iam, eram esquecidos, isto também deixava-o louco.
Tinham certos momentos em que ele sentia raiva, mas não sabia exatamente de quê, por isso chorava. Não era frágil, chorava porque não tinha vergonha de mostrar o que realmente era, sentia por dentro. Nem que fosse apenas para si mesmo, era uma maneira de enxergar dentro de si. Era completamente verdadeiro.
Escrever. Ele nunca escreveu com o objeto de outros se identificarem com seus escritos. Achava que cada um era totalmente diferente, só mesmo cada pessoa para saber o que realmente acontece dentro. Portanto escrevia para si, e compartilhava com os outros como uma forma de ajudá-los a conhecê-lo. Secretamente sabia que cada era um enigma para a sociedade. E mais do que isso, ele escrevia para guardar seus pensamentos que logo lhe esvaziavam a cabeça. Escrever, antes de tudo, é conhecer a si próprio.
Então, deitado no escuro, achou que já tinha pensado demais, se emocionado demais. Pois a lágrima que tinha caído não era de dor, era de compaixão. Só precisava rolá-la para os lençóis e cair completamente na escuridão.

Por: Ítalo Héctor de Medeiros Batista.

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