Eu reforço que tudo é relativo, e que tudo tem sentimento. Que escrevo porque vejo sentido, e que, às vezes, as coisas mostram mais sentido e significado do que intencionalmente fizeram, ou que de propósito esconderam.
A visão do magricela era comum. Uma lua crescente e amarelada em seu pouco preenchimento, um céu azul que guardava um pouco de laranja ao fim, e umas estrelinhas envergonhadas. Muito simples.
A laranja estava cortada em quatro partes, cada uma maior que a outra. Para o final sempre ficava, e o garoto sabia disso, a maior parte, aquela que é a mais difícil de engolir. Não era nenhum pouco de propósito.
Com um quarto da amarela nas mãos, o menino entrou no minúsculo terraço que ficava em frente à rua, avistando o céu do princípio, às vezes enxergando três metades bobas de laranja amarela.
Ele tomava cuidado para ninguém que passasse pela rua percebesse, achava muito complicado essas coisas de chupar laranja. Não era nenhum pouco educado fazer, achava; nessas horas era difícil ser chique. Quase impossível não ser “pobre”. Comparava o ato com o de “degustar” cachorro-quente, impossível não se melar! Então se escondia entre uma mordida e outra, sendo o mais silencioso possível – como se alguém pudesse escutá-lo.
Ao fim de cada parte, toda vez, ele cuspia o que chamava de resto – que na verdade não é resto, não pra mim, pra ele! - para fora do portão gradeado do terraço, que melava de laranja o chão sujo do quintal. Então foi se melando nesse fazer, escutando um Dylan e seu próprio ruído. Coitado. No final da pobre laranja – e ele nem fez o enterro. – não se sentiu saciado. O fantasma magricelo correu para o quarto, vestiu um blusão e foi direto à sorveteria.
Na volta, enquanto deslizava pelas ruas frias da cidade, tomava um “cascão” de três bolas de amendoim e uma de brigadeiro. Só sendo ele! Numa noite fria, quase gelada, tomando um sorvete enorme, de short de dormir e sem ligar para a vida e para os trombadinhas. Mas também, o que iriam levar do moleque? Um sorvete e o pequeno troco? Não daria nem para comprar umas pedrinhas. E antes que se questione, o celular ficou em casa. Se fosse assaltado, não queria perder o celular do qual nem gostava.
Então foi. Melando a boca e mordendo a casquinha. Sujando os dedos e se enchendo de vermes. Fazer o que, “né”?
Acho muito imprudente essa coisa de ser jovem. É quase um homicídio, no qual só existe uma pessoa que realiza todos os papéis possíveis. Sei lá, por isso prefiro ser adulto com contas para pagar, cheio de responsabilidade e compromisso, trabalhando o dia inteiro e comprando o que for quando tiver tempo. É muito melhor do que ser um jovem problemático que não consegue ver as coisas boas da vida, que não é educado e nem tem etiqueta², que só enxerga o simples e fútil.
Por:Ítalo Héctor de Medeiros Batista.
"Acho muito imprudente essa coisa de ser jovem. É quase um homicídio, onde só existe uma pessoa que realiza todos os papéis possíveis. Sei lá, por isso prefiro ser adulto com contas para pagar, cheio de responsabilidade e compromisso, trabalhando o dia inteiro e comprando o que for quando tiver tempo. É muito melhor do que ser um jovem problemático que não consegue ver as coisas boas da vida, que não é educado e nem tem etiqueta², que só enxerga o simples e fútil."
ResponderExcluirEu adorei Ítalo, adorei.