quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Uma realidade antiga

Era a semana da independência em todo o país, obviamente setembro de 68, e todas as pessoas sentiam que o clima iria esquentar naquela primavera. Nós estudantes de direito e membros do grêmio estudantil de uma universidade do Rio, estávamos integrados a um movimento revolucionário, o MR-8.
O nosso cansaço era mais que imenso, e a nossa felicidade estava indo embora, pois agora tomávamos conhecimento da presidência do coronel Garrastazu Médici. Com a doença do Costa e Silva quem deveria mesmo tomar o poder era o regime socialista, livre de qualquer censura e rebeldia da época.
Fomos juntados pelo destino: soldados nos prendiam com algemas, e nos conduziam até um camburão, neste seríamos transportados até a base da aeronáutica do Galeão, onde todos nós seguiríamos para o México, afinal, éramos os "verdadeiros bandidos" do Rio.
Naquele clima de tensão, subimos naquele Hércules 56, nome do jatinho que iria nos transportar até a Cidade do México, e de lá não sabíamos até quando tudo aquilo iria repercutir.
Alguns de nós ainda sonhavam em conseguir fugir daquelas Forças Armadas, e assim dar como exemplo a prisão do outro resto que ali ficasse. Porém nada caminhou como o pensado, e todos nós fomos conduzidos ao México. Foram horas de cansaço, pois o piloto que nos levava perdia tempo dando voltas sem destino, até, enfim, tomar seu rumo.
Chegamos lá por volta das 14 horas, e fomos recebidos pelo presidente, que, ao subir no jato, pediu imediatamente que tirássemos as algemas, fato que marcou nossas memórias, aliás, éramos "perigosos" no Brasil, e bons jovens no México.
A imprensa nos fez milhares de perguntas, todos nós tínhamos enormes cuidados com o que falaríamos, pois qualquer ideia esgotaria nossas vidas.
Caminhamos, logo depois daquela sessão cansativa de perguntas, para onde ficaríamos hospedados por longos dias de exílio. E foi então que dois de nossos companheiros conduziram nossos destinos, mudaram completamente nossos dias, fazendo uma das mais arriscadas ações daquela época: o sequestro do embaixador americano.
Todo país, comovido com a ação, se surpreendeu, ainda mais, quando viu em manchetes de jornais, que no carro, onde nossos companheiros teriam fugido, existia uma carta que trazia como escritura a libertação de 15 presos mandados para o exílio no México. Aliás, nenhum brasileiro sabia que fomos mandados para o México como perigosos. Agora todos estavam avisados como a ditadura ficava violenta e repressiva a quem não obedecesse a ela.
Depois de todos os confrontos, fomos libertados e voltamos para o Brasil. Alguns de nós continuaram na luta armada e foram mortos como forma de tortura logo após alguns anos. Quanto ao resto, alguns não sobreviveram, outros estão vivos até hoje, para contar como se sucedeu o sequestro de um embaixador americano no ano de 68.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Os "jovens" problemáticos...

Eu reforço que tudo é relativo, e que tudo tem sentimento. Que escrevo porque vejo sentido, e que, às vezes, as coisas mostram mais sentido e significado do que intencionalmente fizeram, ou que de propósito esconderam.
A visão do magricela era comum. Uma lua crescente e amarelada em seu pouco preenchimento, um céu azul que guardava um pouco de laranja ao fim, e umas estrelinhas envergonhadas. Muito simples.
A laranja estava cortada em quatro partes, cada uma maior que a outra. Para o final sempre ficava, e o garoto sabia disso, a maior parte, aquela que é a mais difícil de engolir. Não era nenhum pouco de propósito.
Com um quarto da amarela nas mãos, o menino entrou no minúsculo terraço que ficava em frente à rua, avistando o céu do princípio, às vezes enxergando três metades bobas de laranja amarela.
Ele tomava cuidado para ninguém que passasse pela rua percebesse, achava muito complicado essas coisas de chupar laranja. Não era nenhum pouco educado fazer, achava; nessas horas era difícil ser chique. Quase impossível não ser “pobre”. Comparava o ato com o de “degustar” cachorro-quente, impossível não se melar! Então se escondia entre uma mordida e outra, sendo o mais silencioso possível – como se alguém pudesse escutá-lo.
Ao fim de cada parte, toda vez, ele cuspia o que chamava de resto – que na verdade não é resto, não pra mim, pra ele! - para fora do portão gradeado do terraço, que melava de laranja o chão sujo do quintal. Então foi se melando nesse fazer, escutando um Dylan e seu próprio ruído. Coitado. No final da pobre laranja – e ele nem fez o enterro. – não se sentiu saciado. O fantasma magricelo correu para o quarto, vestiu um blusão e foi direto à sorveteria.
Na volta, enquanto deslizava pelas ruas frias da cidade, tomava um “cascão” de três bolas de amendoim e uma de brigadeiro. Só sendo ele! Numa noite fria, quase gelada, tomando um sorvete enorme, de short de dormir e sem ligar para a vida e para os trombadinhas. Mas também, o que iriam levar do moleque? Um sorvete e o pequeno troco? Não daria nem para comprar umas pedrinhas. E antes que se questione, o celular ficou em casa. Se fosse assaltado, não queria perder o celular do qual nem gostava.
Então foi. Melando a boca e mordendo a casquinha. Sujando os dedos e se enchendo de vermes. Fazer o que, “né”?
Acho muito imprudente essa coisa de ser jovem. É quase um homicídio, no qual só existe uma pessoa que realiza todos os papéis possíveis. Sei lá, por isso prefiro ser adulto com contas para pagar, cheio de responsabilidade e compromisso, trabalhando o dia inteiro e comprando o que for quando tiver tempo. É muito melhor do que ser um jovem problemático que não consegue ver as coisas boas da vida, que não é educado e nem tem etiqueta², que só enxerga o simples e fútil.

Por:Ítalo Héctor de Medeiros Batista.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Se fosse animalzinho...

Se eu fosse um animalzinho
Para amar sem racionar
Se organizar e sobreviver
Viver só para amar


Se eu fosse um animalzinho
Perderia-me neste sonho
Que não tem errado nem correto
Se eu fosse um animalzinho
Deixaria de ser incompleto

Por: Ítalo Héctor de Medeiros Batista