Hoje as pessoas na rua
estavam feias. Elas pareciam cansadas, deprimidas, improdutivas, incapazes,
passageiras, abundantes, expansivas, medrosas, iguais, invejosas, ambiciosas,
etc., etc., etc., etc. Pensei que fosse o tempo, olhei pro céu e vi que as nuvens
pareciam aborrecidas, iam chorar.
Observei o céu como
sendo uma coisa divina, mas surgiu na minha frente, ali no ônibus, uma pessoa
feia, assim como grande parte das pessoas existentes na minha cidade feia;
cidade que tem filhos de uma única e grande coisa: a pobreza, esta pobreza que não
é material, esta pobreza que tanto me dói, a pobreza da alma. Isso não significa
dizer que eu estou fora desse bando, pelo contrário, eu me encontro
redondamente inserida no mais profundo estado de pobreza: a solidão.
Porém, retomemos a
pessoa que me surgia no ônibus – um homem –, este me pareceu menos ambicioso,
menos malicioso, menos dependente das coisas que nos consomem, desse estado
empobrecido, desse país de merda, desse continente abandonado e visado por
“grandões”, que se sentem donos do mundo; e deste planeta condenado a sofrer
com as coisas ruins que eu produzo e que você acredita, mas que todos nós
acatamos de bom grado.
Pois bem, este homem,
que nem era velho e nem era novo, me pareceu bastante comum, mas com uma
diferença: em seu olhar o que reinava era a ingenuidade, não um símbolo do
cifrão, que nós brasileiros usamos para representar este pedaço de papel em
formato retangular, que vale muito mais que um sentimento verdadeiro, no qual
recebe o nome de dinheiro.
E aí eu fiquei a me
perguntar: “O que será meu Deus, que este homenzinho, que volta de uma rotina
exaustiva de trabalho, traz no peito pra se manter exclusivamente ingênuo nesse
mundo de deus-nos-acuda?”; enquanto me questionava, o homem ao meu lado,
tentava buscar um jeito em que as sacolas, presas em seus dedos se
desprendessem sem esbarrar em mim, uma desconhecida feia e mal-humorada, assim
como aquele dia. Tudo aquilo me parecia vida, porque estando ao lado daquele
moço eu sentia que nem tudo estava perdido, haveria então “salvação” para este
mundo.
A dúvida de “qual era
o segredo do homem” só aumentava, foi quando dei por mim, lendo desconcentrada
a página de um livro. Eu já estava perto de casa, tristemente teria que descer
do ônibus e nunca mais me sentir viva, como quando o homem castigado pelo mundo
sentou ao meu lado e me mostrou sem dizer nada, que a vida é muito maior do que
eu pensava!
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