sexta-feira, 25 de março de 2011

A Catarse

      Primeiro, ele expulsa todos os seus sentimentos até que reste apenas um, o desejo. E este, por sua vez, é tão forte que domina todo o seu corpo até que você esteja totalmente entregue e completamente vulnerável. Seu corpo dirigi-se a ele como se o pertencesse e os instantes seguintes não serão mais raciocinados, apenas sentidos. Você caminha procurando o lugar mais escuro possível onde apenas você, a escuridão e o silêncio se transformarão em um só.

         É chegada a hora e então você toma o primeiro passo. Descrever este ato é como olhar para uma obra prima e entender cada magnífico significado ali empregado. Antes mesmo de levá-lo a boca, um calafrio anuncia o prefácio daquele momento adiado com o seu esforço inválido. Não importa, você tem que fazer isso, você precisa dele agora.

          E então, seus lábios o beijam e logo o fogo gerado pela combustão do fósforo também o beija. Seus olhos se fecham, sua cabeça inclina-se involuntariamente e a fumaça desce traquéia abaixo até chegar aos pulmões e, em milésimos, invade sua corrente sanguínea, distribuindo uma catarse que se estende a cada centímetro cúbico de sangue que corre em suas veias, carregando hemácias preenchidas de uma sensação impossível de ser entendida, apenas interpretada pelas sinapses. A Terra para seu movimento por alguns segundos, suas pupilas dilatam e enquanto lentamente você abre os olhos, enxergando apenas o escuro do céu à noite, com suas estrelas nele mergulhado, a fumaça faz todo o cruel caminho de volta deixando apenas uma dor expressa por um sorriso malhado pela necessidade de mais um trago.

      A vida não passa de uma sucessão de tragédias e melodramas vividos por mundos ideológicos comandados por super-egos, o ser humano.  Contudo, a catarse sentida naquele momento por uma pessoa que parece sentir toda a dor do mundo num só instante parece incompreensível pra muitos, mas é sadicamente aceita por quem a sente. Para esses poucos seres, é sentir-se vivo. Para essas pessoas de dores incompreendidas. É amar.

terça-feira, 15 de março de 2011

Para minha querida Mallu

    Eu gosto de te sentir em meus braços e de ti fazer conhecer qualquer pedaço desse novo mundo. Gosto também de te fazer prestar atenção em mim, mesmo que seus olhos não encontrem os meus. Se de algum eu te faço sorrir, fico contente por você ter sentido e feito valer minha presença em sua vida, mesmo que depois eu seja esquecido; não será por culpa sua e nem por falta de amor meu.
    Fico bobamente alegre quando você passa a mão no próprio rosto e fecha os olhinhos demasiado azuis, sorrindo e pondo os dedos na boca.
    És tão quieta em tudo que fazes. Não há barulho algum.
    Sentir sua cabeça e seus pouco cabelo em minhas mãos faz-me sentir protetor, digno e competente de qualquer tipo de amor.
    Aproveite esse teu mundo que ainda guarda resquícios de qualquer magia verdadeira, lugar onde qualquer toque ou som é sinal de sincero carinho. Aproveita também o silêncio dessas palavras não vindas e que não podem lhe machucar o coração – e ninguém se atreveria a te machucar de outra maneira.
    Obrigado por ter posto meu dedo entre os teus tão pequenos... Para mim não há maior prova de aceitação.
    Você me é e me dá tudo que espero de alguém assim como você. És o que pretendo para o meu futuro, és o meu presente tão vivo e inclusive o meu passado. Sim! Já tenho enormes saudades de ti, algo que me abala e me faz feliz.
    Somos assim, às vezes olhos direto e alegres, sorrisos, abraços, carinho, amor. Corpos ternos em dia e noite de chuva.