Primeiro, ele expulsa todos os seus sentimentos até que reste apenas um, o desejo. E este, por sua vez, é tão forte que domina todo o seu corpo até que você esteja totalmente entregue e completamente vulnerável. Seu corpo dirigi-se a ele como se o pertencesse e os instantes seguintes não serão mais raciocinados, apenas sentidos. Você caminha procurando o lugar mais escuro possível onde apenas você, a escuridão e o silêncio se transformarão em um só.
É chegada a hora e então você toma o primeiro passo. Descrever este ato é como olhar para uma obra prima e entender cada magnífico significado ali empregado. Antes mesmo de levá-lo a boca, um calafrio anuncia o prefácio daquele momento adiado com o seu esforço inválido. Não importa, você tem que fazer isso, você precisa dele agora.
E então, seus lábios o beijam e logo o fogo gerado pela combustão do fósforo também o beija. Seus olhos se fecham, sua cabeça inclina-se involuntariamente e a fumaça desce traquéia abaixo até chegar aos pulmões e, em milésimos, invade sua corrente sanguínea, distribuindo uma catarse que se estende a cada centímetro cúbico de sangue que corre em suas veias, carregando hemácias preenchidas de uma sensação impossível de ser entendida, apenas interpretada pelas sinapses. A Terra para seu movimento por alguns segundos, suas pupilas dilatam e enquanto lentamente você abre os olhos, enxergando apenas o escuro do céu à noite, com suas estrelas nele mergulhado, a fumaça faz todo o cruel caminho de volta deixando apenas uma dor expressa por um sorriso malhado pela necessidade de mais um trago.
A vida não passa de uma sucessão de tragédias e melodramas vividos por mundos ideológicos comandados por super-egos, o ser humano. Contudo, a catarse sentida naquele momento por uma pessoa que parece sentir toda a dor do mundo num só instante parece incompreensível pra muitos, mas é sadicamente aceita por quem a sente. Para esses poucos seres, é sentir-se vivo. Para essas pessoas de dores incompreendidas. É amar.