segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

De moça

Moça, não chore
Ele não te quer
Nem te ama mais
Não tente voltar, se puder.

Não diga que ele não consegue,
De você, longe viver,
Longe de seus lábios.
Ele rirá sem temer.

Não tente, não tente
Não tente voltar
Não o chame de amor

Ele só esperou uma desculpa
Para te deixar
Ele não te ama.

 Por: Ítalo Héctor de Medeiros Batista

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

A gata Betty

      Era uma vez uma gata chamada Betty. Ela já estava velhinha, mas ainda parecia radiante.
    Betty andava pela rua com seu rabo levantada para cima e dançando, mas ela não mais corria.
    Ás vezes sentia-se emburrada, pois sua antiga dona, uma garotinha, havia lhe deixado com sua avó na antiga casa onde morava. A gata pensava “Por que não me deixaram ir, como fizeram com meus irmãos?”.
    No começo foi legal ter sido escolhida, mas agora que era esquecida... Nunca havia lhe faltado nada, mas agora que havia ausência de felicidade...
    Certa vez perdeu uma cria novinha que foi mordida por um morcego na frente da própria Betty.
    A coitada passava a tarde inteira na calçada de sua casa, sob uma árvore – aproveitando a sombra, claro. Parecia uma velha fuxiqueira, olhando de um lado para o outro.
    Havia se tornado um animal amargo, sem amor. Se qualquer pessoa ousasse tocar-lhe, ela saia de perto (não corria, lembra?), miava e fazia beiço. Nunca mais dera outra cria.
    A solidão de Betty era tamanha, as pessoas já não se importavam com a gata e ninguém a chamava pelo nome, ela também já havia esquecido qual era, por tanto, se você a chamasse gritando-o, muito provavelmente ela não atenderia ao chamado. Só o faria se estivesse realmente curiosa, interessada ou se sua voz fosse bonita.
    E agora, o que seria de Betty? O que seriam de suas tardes? E quando percebesse que havia perdido tempo demais, morreria de angústia, tristeza? Por que ninguém a fazia correr, ou então lhe pegava no braço e mostrasse-a que existia amor? Betty sentia-se como se não pudesse nem mais se expressar, e era totalmente verdade...

Por: Ítalo Héctor de Medeiros Batista

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

O gosto do amor

O gosto do amor na verdade é o último sentido que se é roubado por ele e o meu primeiro foi o da visão. Aconteceu em Roma a 4 anos atrás, no hotel The Westin Excelsior Rome em uma das minhas visitas ao consulado italiano. De início, não soube que ela era quem me roubaria o sentido, mulheres não passavam de um hobby e homens de estirpe precisam mantê-los, mas bastaram algumas horas de conversas para que eu me desse conta de que estava diante da mulher perfeita e apenas uma noite em sua cama para que percebesse que estava apaixonado, dali em diante meus olhos a pertenciam. Pela manhã, o lençol engelhado e o travesseiro encharcado com seu cheiro evidenciavam a desarmonia dos fatos e os focos de luz sépia, criados pelos raios que passavam pela cortina caqui, atingiam meu rosto revelando uma antítese de expressões faciais adversas ao que meus olhos mostravam. Foi então a primeira vez que ela partiu e que levou consigo meus sentidos da visão e olfato.
O dano era irreparável, meus olhos preencheram-se com um olhar vazio, distante, errado e facilmente identificado pelas minhas pupilas esverdeadas nas órbitas e perdidas na extensão das linhas inquietas do whisky que incorporava o copo. Naquela noite, sozinho em um pub em Londres, eu encarava o copo tentando imaginar se era capaz de me levantar se tomasse mais uma dose enquanto seu cheiro invadia o pub como uma tempestade que chega sem avisar, começando com o tom de canela doce e levemente compenetrado e por fim, devidamente apimentado graças à nota de pimenta somente identificada pela presença do toque de sua mão sobre meu ombro. Era ela! Meus olhos logo a alcançaram e num sentido convexo em direção ao seu rosto em que se formava uma penumbra graças às pobres luzes do pub, ela me roubaria mais dois sentidos.

                - Posso me sentar? – Falou.
                - É claro! – E logo, a audição a pertencia.


Deu-me uma desculpa qualquer a respeito de como me encontrara, me enalteceu com alguns elogios e disse que me devia uma explicação sobre o que tinha acontecido em Roma. O fato era que estava com medo, medo, pois compartilhava do mesmo sentimento que eu e recordava-se saudosista daquela noite que fugiu apenas por não se conformar com a situação em que se via menor frente a outro ser por causa de um sentimento mais forte e inexplicável que acreditava não existir e logo foi interrompida com meu beijo, que distraído não percebia que naquela hora acabara de entregar mais um sentido, o tato.
Dois anos e 5 meses após recusarmos os próprios medos, entramos num mundo ao qual não nos atrevíamos e que condicionados aos nossos corpos, mais pertencentes a mesma alma, vivíamos um para o outro. Mais cedo naquele dia, tinha me dito pra que não me atrasasse, pois às 21:00 me faria uma surpresa. Deixei o escritório as 20:27, parei em uma taberna as 20:40 e pedi uma garrafa do melhor chardonnay, pra comemorar com ela o dia em que nos conhecemos. Fiquei preso em um engarrafamento as 20:49 e cheguei em casa as 21:17. Entrei, pé direito primeiro o esquerdo em seguida. Senti o cheiro de salmão, sorri, e logo o identifiquei na mesa, perfeitamente preparada para a ocasião.

             - Amor? Comprei aquele chardonnay chileno que você adora. – Sem resposta. Sigo para o quarto.
              - Desculpa, eu falei que não me atrasaria, mais eu peguei engarra...

A garrafa vai ao chão. O grito forte e rasgado ecoa por toda a casa. A faca ainda cravada em seu seio indicava o último dos golpes apressados desferidos contra seu corpo pelo ladrão. O sangue encharcava a cerâmica e aos poucos ia tocando meu corpo. De joelhos, com ela em meus braços, beijo seu rosto maquiado com seu próprio sangue ao tempo que sinto o gosto de metal do mesmo misturado ao sódio de minhas lagrimas à medida que vejo ali, minha vida tomar forma de gelo. Aquele era o gosto do amor, aquele era meu último sentido.